Gizele Martins, psicóloga do CENSA Betim – Acervo pessoal.

No CENSA Betim, instituição com 56 anos atuação, o atendimento psicológico se tornou indispensável a indivíduos com a condição

A pessoa com deficiência intelectual severa enfrenta diversas dificuldades no seu cotidiano, principalmente no convívio social. Por isso, indivíduos nesta condição demandam um trabalho de acompanhamento psicológico. No CENSA Betim, instituição com 56 de anos de história nos cuidados a pessoas com deficiência intelectual, por exemplo, a Psicologia tem um papel fundamental, já que, ajuda na autoestima e motivação de uma vida ativa. Prova disso está no trabalho desenvolvido pela psicóloga Gizele Martins, que atua na instituição contribuindo para a evolução dos educandos, descobrindo formas de se comunicar e buscando alternativas às intervenções medicamentosas de urgência.

De acordo com Gizele Martins, o trabalho do psicólogo no CENSA Betim com as pessoas com deficiência é muito importante, uma vez que promove a análise funcional dos comportamentos como principal ferramenta de intervenção. “Isso quer dizer que, quando um aluno apresenta algum comportamento inadequado, comum nos casos de deficiência intelectual, a primeira coisa a se fazer é investigar. Qual a função deste comportamento? Ao invés de intervir apenas de forma medicamentosa. Por exemplo, um aluno pode ter comportamentos “de birra” sempre que as atividades na sala de aula não forem de seu agrado. O psicólogo atua investigando a relação e ensinando o aluno novas formas de se comunicar, como, pedindo outra atividade ao invés de “fazer birra”, exemplifica.

Segundo a Gizele Martins, as intervenções comportamentais são priorizadas. Todavia, lembra que o trabalho do psicólogo não substitui a medicação, mas ajuda e muito. “Além de aumentar o aprendizado, ajuda o aluno a substituir comportamentos disfuncionais por outros que promovem mais qualidade de vida. Além do que, em alguns casos a intervenção psicológica pode diminuir intervenções medicamentosas de urgência. É importante salientar que o trabalho do psicólogo não substitui a medicação, mas ajuda a reduzir o uso de medicamentos. O trabalho transdisciplinar facilita esse tipo de intervenção, uma vez que os comportamentos acontecem em todos ambientes”, explica.

Sobre o tipo de trabalho desenvolvido com a pessoa com deficiência intelectual no CENSA Betim, a psicóloga Gizele Martins enfatiza que o atendimento é de intervenção terciária. “É um atendimento que pretende diminuir os prejuízos da deficiência intelectual na vida da pessoa depois que ela já recebeu o diagnóstico (intervenção primária seria a prevenção e secundária trata de diagnóstico e intervenção precoce). Essa intervenção muitas vezes é tardia, o que prejudica o desenvolvimento de algumas habilidades que devem ser desenvolvidas logo cedo. Contudo, muitos resultados são possíveis, especialmente no campo comportamental”, lembra.

Em relação ao trabalho realizado com os educandos, ainda que as atividades em grupo sejam valorizadas para fomentar o convívio social, Gizele Martins comenta que geralmente os atendimentos psicológicos são feitos de forma individual, já que cada aluno tem seus interesses, prioridades e especificidades. Para ela, as atividades feitas no CENSA Betim promovem uma melhoria geral no dia a dia. “As intervenções psicológicas no CENSA são feitas individualmente pois os padrões comportamentais dos educandos são heterogêneos e muito particulares. Cada educando tem suas peculiaridades, o que inviabiliza um atendimento mais especializado em grupo. Todavia, eventualmente atividades em grupo são realizadas para promover socialização e de fato, elas promovem uma melhoria geral no dia a dia dos alunos e em vários aspectos psicológicos”, salienta.

Ganhos

A psicóloga Gizele Martins explica como são os ganhos através das atividades desempenhadas com os educandos. “Através de um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) nós estabelecemos quais ganhos são esperados para cada educando. Cada um trabalha no nível correspondente ao seu desenvolvimento. O objetivo é que aquelas habilidades que ele já tem sejam utilizadas para que ele melhore sua qualidade de vida e quando possível aperfeiçoe outras habilidades em desenvolvimento. Além disso, como o trabalho das oficinas é feito em grupo, há um ganho nas habilidades sociais também. O trabalho em conjunto propicia o aprendizado de aspectos importantes para a convivência”, completa.

Quanto aos preconceitos sofridos pelas pessoas com deficiência, ela destaca que a caminhada é longa. “O trabalho com esse público exige muitos conhecimentos específicos e na psicologia não existe uma especialização voltada exclusivamente para esse trabalho. Todavia, é importante que o psicólogo tenha conhecimentos avançados em transtornos do desenvolvimento, neuropsicologia e em psicologia comportamental. Quanto ao acesso a informações, a propagação de estudos promovida pela internet nos últimos anos fez com que muita gente ampliasse seus conhecimentos. Mas a caminhada ainda é longa”, conclui Gizele Martins.

CENSA Betim

O CENSA foi fundado em 1964 pela educadora Ester Assumpção e hoje é referência nacional nos cuidados pessoas com deficiência intelectual. Com cerca de 100 educandos atualmente, a instituição possui uma equipe transdisciplinar de profissionais da área da saúde e educação que somam esforços para criar condições favoráveis para o desenvolvimento e a inclusão desses indivíduos. Além disso, o CENSA é um espaço de formação e parceria com escolas públicas e privadas, além de faculdades e universidades. Seus profissionais estão sempre engajados na produção científica de artigos, livros e teses e, com isso, se mantêm atualizados na busca de soluções estruturadas para pessoas com deficiência intelectual e seus familiares. Mais informações sobre o CENSA Betim: www.censabetim.com.br


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